Ao contrário do que muitos pensam, Doutor Junior é uma
brincadeira, um apelido carregado de ironia que ganhei quando revelei aos mais
chegados que pretendia largar tudo para correr atrás do meu grande sonho: a
medicina. Entenda-se por “tudo” um emprego bom, com um salário bom e grandes
possibilidades de crescimento numa empresa multinacional em franca expansão. Tinha
acabado de fazer 25 anos e estava prestes a meter as caras no financiamento do
meu primeiro carro quando me dei conta de que estava infeliz.
Eu ia pro trabalho empurrado, vivia mal humorado e de vez em
quando tinha umas crises de choro que estavam se tornando cada vez mais
frequentes. Incentivado por minha mãe, não demorou muito fui bater no
consultório de um psiquiatra, onde, contrariando todas as minhas expectativas, descobri
o motivo daquela angústia que me consumia.
Mais importante que o diagnóstico de depressão que ele me dera (baseado em meia dúzia de palavras que eu lhe dissera), foi a a maneira fria e desinteressada com que me tratara do momento em que adentrei seu consultório até o instante exato em que botei os pés na rua – tava na cara que aquele sujeito era um profissional frustrado, que detestava o que estava fazendo. Como eu, na minha vida profissional.
Enquanto caminhava até o metrô não conseguia deixar de me enxergar no lugar daquele médico. Eu achava que não sabia o motivo daquela tristeza toda, mas no fundo eu tinha consciência de que o que estava me consumindo era a idéia de levar o tipo de vida que vinha levando até então para o resto dos meus dias. Jamais passara pela minha cabeça fazer carreira numa multinacional e derepente me dei conta de que eu deixara a vida me levar, me distanciar do meu grande sonho, da minha verdadeira vocação, que sempre foi fazer medicina.
Ninguém botou fé quando cheguei em casa comunicando minha decisão de largar o trabalho e voltar a frequentar um cursinho pré-vestibular, mas a verdade é que, passado pouco mais de um ano, lá estava eu prestando vestibular pra medicina. Mal sabia eu que não seria o único. Mas isso é história pra outro post. O importante é que a tristeza foi embora juntamente com as camisas polo que eu tanto odiava e que era obrigado a usar na empresa onde trabalhava.
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